quinta-feira, 29 de março de 2012

meu vocabulário, meu limite

Mais uma dissertação que escrevi, desta vez para a Criar. O tema era "a leitura e a escrita engrandecem a alma".

         O poder da leitura é inquestionável: ela pode ser tanto manipuladora quanto enriquecedora; pode tanto iluminar quanto confundir. Mas, em quaisquer aspectos, a leitura e a escrita são agentes transformadores da nossa forma de pensar - e, quando usadas com o devido senso crítico, facilitam o processo de entendimento da realidade.
        O processo começa com a leitura - nela, é adquirido conhecimento de palavras que dão nome a tudo: ideias, sentimentos, estados e assim por diante. Diante desse conhecimento, o indivíduo faz paralelos com sua própria vivência, e passa a compreender melhor sua realidade, tanto psicológica quanto social e ideologicamente.
        Essa maior compreensão aumenta a variedade de recursos internos do indivíduo, ou seja, ele aprende a lidar melhor com diferentes situações simplesmente por entendê-las. Além disso, o ato de saber dar nomes a ideias e sentimentos, além de ser reconfortante, também melhora a própria capacidade de expressão do indivíduo, tanto na escrita quanto na fala. Ou seja, um vocabulário rico facilita a expressão, o que exige como seu precedente a própria reflexão. Logo, ao melhorar-se a capacidade de expressão, incentiva-se à reflexão.
         Então a linguagem é o caminho para a própria reflexão. Se não existe uma palavra para definir uma ideia, não será possível refletir sobre ela, ou seja, o vocabulário define o alcance do pensamento, como disse Wittgenstein. Muitos outros autores já trabalharam com essa ideia, como George Orwell. Em seu livro 1984, a ideia de criar uma nova língua (intitulada Novafala), com menos substantivos e sinônimos, era justamente de limitar o pensamento dos cidadãos, para que estes não refletissem sobre o sistema em que viviam - o que levaria ao questionamento e à insatisfação, algo que o Estado obviamente não queria.
        Em suma, pode-se dizer que a leitura e a escrita podem ser consideradas processos que engrandecem a alma no sentido de que aumentam nosso entendimento sobre a realidade, facilitando a compreensão de eventos cotidianos e levando-nos a refletir e questionar não só nossos atos, mas também os atos de outrém.

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